domingo, 5 de setembro de 2010

Na fila do mercado

Boa tarde leitores,

Hoje vou contar um caso "engraçado" que aconteceu comigo. Não é engraçado no sentido da palavra. É mais no sentido de incomum.

Acordei de madrugada por conta de uma insônia que vem me perturbando já alguns dias. Lógico que com todo o meu típico mau-humor de insônia não consegui mais pegar no sono. Então vim para o computador mexer na internet. Quando menos notei, já era de manhã e minha barriga começou a roncar. Fui até a geladeira para ver se tinha alguma coisa para comer. Procurei, procurei e não achei nada que desse vontade de comer. Decidi então que iria comprar um sonho no supermercado aqui perto de casa.

Troquei de roupa e em menos de cinco minutos já estava no caminho. A cidade estava bem tranquila. A rua estava vazia, coisa muito difícil de se encontrar numa capital como São Paulo. O céu nublado era o sinal de que o tempo esfriaria. Quando cheguei no supermercado, foi o perfeito contraste com a cidade naquele momento. Filas para pão. Filas nos dois únicos caixas funcionando. Até fila para pegar carrinho. Vendo todo aquele alvoroço, até me arrependi de ter saído de casa só para comprar sonho. Andei rápido para o balcão. Outras sete pessoas esperavam uma mulher que tentava pegar um sonho com uma mão enquanto segurava o celular pressionando-o contra seu ouvido com a outra mão.

Após uma longa espera, finalmente peguei meu sonho e parti para a fila do caixa. Para minha infelicidade, a fila do caixa estava ainda maior do que a do sonho. Carrinhos de compras lotados congestionaram as duas filas. E eu, apenas com meu sonho, teria que aguardar.

Na minha frente, uma senhora esperava pacientemente sua vez. Ela segurava uma cesta de compras com enlatados, pão, algumas verduras e frutas. Ofereci segurar a cesta para ela, mas educadamente ela recusou. A partir daí, a senhora começou a conversar comigo. Na verdade, foi praticamente um monólogo. Ela falou e eu ouvi. A senhora se chamava Antônia e há poucos dias perdera um neto num acidente de carro. Ela falou que o neto se parecia muito comigo me deixando encabulado. Quando sorri, ela derramou uma lágrima. Ao me ver preocupado, ela sorriu e disse que seu neto sorria como eu. Então comecei a perguntar para a senhora como era o neto dela e ela me falou que ele era um bom garoto, tinha uma boa profissão, embora ainda estivesse começando. Ela me falou que ele estava noivo de uma garota que ela adorava e que partia o coração dela ver o sofrimento da garota após a morte do seu neto. Nessa hora, a senhora já não segurava mais suas lágrimas. Ela chorava mas suas palavras continuavam saindo firmes.

Quando finalmente chegou a vez dela no caixa, ela segurou minha mão com força e agradeceu. Disse que iria rezar para que eu vivesse bastante (espero que isso realmente aconteça) e que pudesse ter tempo para aproveitar a vida. Então a senhora foi embora com seus passos curtos e rítmicos. Paguei meu sonho e voltei para casa. Estou até agora com aquela senhora na cabeça. A infelicidade dela de viver e ver seu neto morrer me deixou pensativo. Infelizmente a vida. às vezes, nos tira pessoas muito antes delas se tocarem que estão vivendo.

Por isso é bom aproveitar ao máximo tudo que a vida nos oferece.
Um bom feriado a todos.

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