"Aquela era uma noite um tanto anormal. Três pessoas esperavam o trem na plataforma já impacientes. Estava ficando tarde e eles ainda não tinham retornado para casa. Um urro contínuo ecoou pelo túnel de onde saíam os trilhos. Alguém que não estivesse acostumado com aquele ambiente imaginaria logo uma serpente gigante com olhos brilhantes saindo pelo túnel, mas os três deram um passo para frente na plataforma. O trem passou por eles carregando consigo uma corrente de ar que esvoaçou seus cabelos furiosamente.
- Finalmente. - um dos três resmungou.
Os outros dois apenas confirmaram com a cabeça.
Finalmente o trem parou e suas portas se abriram. Um apito agudo soou. Os três olharam desconfiados para o trem vazio. Estranharam, mas a pressa fez com que entrassem sem demora. Com um novo apito, as portas fecharam-se e o trem pôs-se em movimento.
Nenhum dos três haviam pego um trem vazio como aquele. Os bancos estavam todos vazios. Eles caminharam até um deles e sentaram-se. Um pressentimento estranho estava percorrendo dentro deles. Eles sabiam que nunca, mas NUNCA mesmo, aquele trem poderia estar vazio. Afinal, eles moravam na CAPITAL.
O trem parou em todas as estações normalmente, mas ninguém entrou naquele vagão. Vez ou outra, quando o trem estava perto de parar, um deles levantava-se e procurava por alguma alma parada na plataforma. Não havia ninguém lá.
- Que cabrero. - o garoto falou com a voz cansada saindo forçadamente.
Os outros dois apenas concordaram com a cabeça.
Quando finalmente o trem chegou no destino dos garotos, eles saíram apressadamente pela plataforma subindo as escadas até a estação de trem. Para espanto deles, a estação estava tão vazia quanto o trem.
- Melhor a gente andar rápido até em casa. - o que falou era o menor dos três. Seus olhos vigiavam as quinas da estação procurando algo que ele não gostaria de encontrar.
Os três subiram a calçada com passadas longas e rápidas pulando até três degraus de uma só vez. Quando chegaram à rua, perceberam que ela estava igual a estação e o trem: VAZIOS.
- Que merda é essa? - perguntou o maior deles. Sua voz mostrando um misto de apreensão e espanto.
A luz dos postes estava fraca e a rua estava imersa numa densa névoa. Os três caminharam quase correndo até o apartamento em que moravam. Este não ficava tão distante, apenas algumas quadras da estação, então em poucos minutos já estavam em casa. Ficaram parados no portão esperando que o porteiro abrisse, mas ele não abriu. Então tocaram a campainha e esperaram. Passou-se um tempo e não obtiveram sinal do porteiro.
- Até o porteiro sumiu! - o menor dos garotos já não tentava esconder o medo. Ele olhava para todos os lados. Estava tremendo e não era de frio.
- Vem. - o do meio puxou o menor para perto da grade do estacionamento. - Pula e pega a chave. - falou para o menor que estremeceu com a idéia do amigo. Ele balançou a cabeça em negação tentando persuadir o amigo a ter outra idéia.
O maior dos três chegou mais perto.
- Vai! Anda logo, Daniel. - ele esbravejou.
Daniel, o menor dos três, pulou a grade relutante. Estava difícil ver a cabine do porteiro, e ele demorou para achar a chave do portão. Ele entrou na cabine preocupado. Aguçou os ouvidos para escutar qualquer coisa estranha.
- Que enrascada... - gemeu assustado.
Quando finalmente encontrou a chave, ele correu ao encontro dos amigos que esperavam do lado de fora. Ele abriu a grade com rapidez e os outros dois entraram.
- Valeu, Dan. - o maior deles parabenizou alegremente o amigo deixando um pouco de lado a apreensão daquela noite.
Os três subiram pelas escadas. O barulho dos passos ecoavam e parecia que caminhavam em um longo túnel.
Finalmente chegaram no apartamento. Eles abriram a porta e entraram.
- Que dia estranho. - Miguel, o garoto do meio, exclamou.
- Pode crer. - Paulo era o maior deles, mas apesar disso estava assustado como os outros dois, embora Daniel tremesse.
CRUNC!
Os garotos estremeceram quando o barulho da queda de algum objeto muito pesado cortou o silêncio.
- Que foi isso?! - Daniel estava amassado contra a parede. O medo fluía pelas lágrimas nos seus olhos.
- Não sei. - Miguel respondeu ao garoto tentando acalmá-lo.
CRUNC!
O barulho assustou novamente os garotos, embora menos dessa vez.
- Olha lá! - Paulo apontou para um luz fraca que saía do banheiro. Os três entreolharam-se pasmos.
- Vamos até lá. - Miguel sussurrou.
- Eu não vou. - Daniel retrucou com a voz trêmula.
- Se você prefere ficar aqui sozinho, tudo bem.
Daniel olhou para os lados e pensou novamente. No fim, acabou aceitando e juntou-se a Miguel e Paulo.
Os três caminharam lentamente até a porta do banheiro, tomando cuidado para não fazerem barulho. O caminho não era longo. Apenas cinco passos curtos e já estavam parados na frente do banheiro. De dentro dele, uma luz muito fraca piscou.
- A janela... - Paulo não teve tempo de terminar a frase pois uma força invisível os puxou em direção à janela.
- AAAAAAAAAAAAAAH!!! - gritaram em uníssono.
A janela abriu-se como um buraco negro e eles foram sugados por ela. Apenas podia-se ouvir o som dos gritos dos garotos. Quando finalmente cansaram-se de gritar, perceberam que já estavam caindo sejá lá onde há alguns longos minutos.
- Que queda longa. - Miguel falou entediado.
Paulo concordou também entediado.
Daniel estava encolhido na medida que era possível ficar quando se está em queda livre para algum lugar desconhecido.
- Quando será que vamos nos estatelar no chão? - Paulo perguntou em deboche.
Daniel gemeu e os outros dois garotos riram do seu amigo.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!! - o grito de Daniel assustou Paulo e Miguel.
- O que foi?! Não cansou de gritar? - Paulo perguntou irritado.
Daniel apontava paralisado para baixo. Paulo e Miguel perceberam e olharam para baixo. Algo marrom aproximava-se. Algo marrom...
- É O CHÃO! - Daniel gritou.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!! - dessa vez Paulo e Miguel acompanharam Daniel nos gritos.
BLOSH!
Como um míssil, os três abriram um buraco num monte fedorento. Eles levantaram-se observando a coisa marrom e fedorenta.
- Ora! Mais ocês fizeram um grande bagunça com o cocô das cabritas, não? - uma voz fina falou bem abaixo deles. Eles olharam para baixo assustados. Uma pequena criatura de nariz longo e empinando, cabelos e olhos roxos com um chapéu de palha estava em pé ao lado de uma imensa carroça lotada de esterco que impediu que os três garotos caíssem direto no chão. - Calma lá que vô ajudar ocês a descer. Guenta aí.
A criatura assoviou e alguns segundos depois um terremoto moveu o chão. Um buraco abriu-se e uma minhoca de proporções titânicas saiu de lá. Os três garotos nem conseguiram gritar quando a minhoca titânica começou a devorar todo o esterco da carroça e em poucos minutos os três já estavam na altura do chão e puderam pular da carroça.
A pequena criatura caminhou até eles. Ela chegava na cintura de Daniel.
- Então... - começou observando curiosa os três garotos. - de onde cês são? Cair do céu desse jeito é um jeito estranho de viajar.
Os três entreolharam-se.
- Onde estamos? - Miguel perguntou tomando a iniciativa.
A criatura olhou para eles desconfiada, mas acabou respondendo:
- Cês tão em Nárnia.
"
Legal demais!
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