sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Da série: "A Janela para Nárnia" - Segundo capítulo

Os garotos olharam ao seu redor. Um misto de incredulidade e espanto percorria suas veias transformando suas entranhas numa pequena bola de adrenalina. Um imenso vale verde os cercava. Num lado, arrastando-se até o fim do mundo, crescia pomares de árvores frutíferas de diversas espécies e cores. Uma brisa suave trouxe um aroma tenro e doce até as narinas dos três garotos. Eles inspiraram profundamente e expiraram. Nunca sentiram ar tão gostoso em toda a vida. Esse aroma era muito diferente do aroma da grande capital onde moravam. Eles lembravam sempre do ar repleto de poluição quando Daniel enfrentava suas crises de asma e era preciso uma máquina para oferecer-lhe um ar razoavelmente puro. Mas aqui, nesta colina, neste mundo, os três garotos podiam respirar profundamente que não se engasgariam com alguma fuligem oriunda de alguma fábrica ou dos automóveis. Eles estavam no paraíso. Mesmo banhados em esterco, ainda assim sentiam o sangue ser preenchido por algo agradável, algo vivo.
- Cês vão ficar aí parados mesmo? – eles ouviram a voz perguntar despertando-os do transe no qual se encontravam.
- Esse lugar é demais! – Miguel falou maravilhado arrancando um sorriso satisfeito da estranha criatura que os encarava.
- Obrigada. – a estranha criatura respondeu. Ela compartilhava o mesmo sentimento de admiração por aquelas estranhas criaturas que surgiram do céu como aquelas criaturas admiravam maravilhadas seu mundo. – Nos esforçamos para manter tudo bonito.
- Nós? – Paulo perguntou curioso. – Então há mais iguais a você aqui?
A criatura do cabelo roxo e nariz longo e fino pareceu não gostar da pergunta de Paulo porque sua expressão fechou. Paulo percebeu a sua inconveniência e desculpou-se.
- Há mais iguais a mim por aqui. – respondeu a criatura com irritação.
- Desculpe, não foi o que eu quis dizer. – Paulo desculpou-se novamente.
Enquanto isso, Daniel inspirava e expirava repetidas vezes. Sentia como se tivesse nascido de novo. Seus pulmões agora podiam encher-se de um ar que ele nunca sonhou existir. Um ar puro, doce.
- Adorei esse lugar! – Daniel gritou assustando Paulo, Miguel e a criatura do cabelo roxo. Ele correu até eles e os abraçou fervorosamente até levando a criatura do cabelo roxo para dançar alguns passos de forró misturado com axé que mais pareceu que seu cada parte do seu corpo havia sido desmontado e começara a desmoronar. Ele ria maravilhado. Pouco depois, Paulo e Miguel compartilharam das risadas frenéticas de Daniel e passaram a dançar junto com ele e a criatura de cabelo roxo que ainda não conseguia entender o que aqueles três estavam fazendo.
- PAREM! – ela gritou quando imaginou que tudo aquilo seria um ritual para controlar sua mente para infiltrá-la na vila e passar informações importantes para eles. Era isso! Eles deviam ser espiões dos seus primos do Norte! Aqueles bastardos! A criatura saltou para longe deixando os três garotos surpresos parados olhando pasmos para a pequena criatura do cabelo roxo que estava com um objeto semelhante a uma pistola na mão. – Quem são vocês? – perguntou desconfiada.
Os três garotos pararam de dançar. Eles iam levantando as mãos quando a criatura gritou assustada:
- Não se mexam! – gritou completamente apavorada. Seus olhos estavam fechados e sua mão tremia com a arma na mão. Os três garotos pararam apavorados com as mãos a meia altura entre a cintura e a cabeça.
- TINA! – uma voz ecoou atrás da colina. A criatura olhou espantada de onde teria vindo a voz. – Abaixe já essa arma, menina! – a voz gritou novamente. Uma coisa irreconhecível redonda começou a surgir abaixo da colina. Subia a passos rápidos, logo um rosto redondo e vermelho como o Sol pôde ser reconhecido. Tinha um escasso monte de cabelo roxo no topo da cabeça e alguns fios saltando da camisa suada.
- Pa...papai! – a menina exclamou na dúvida entre se corria para os braços do seu pai irritado ou se permanecia próxima dos três estranhos que tentavam abduzi-la com um estranho ritual.
- Eu já não falei... – e o pai percebeu com um súbito espanto os três estranhos que estavam entre ele e sua filha. Ele parou próximo a eles e seu queixo caiu. Seus olhos encheram-se de lágrimas e num instante ele saltou nos pés dos garotos assustando-os.
- Ei!
- Não nos mate!
- Vocês finalmente vieram! – gritou a criatura do rosto redondo.
- O que você quer dizer com isso? – Paulo perguntou tentando desvencilhar-se dos braços daquela criatura do rosto redondo. Ele olhou para Tina implorando que o ajudasse, mas a pequena criatura observava seu pai tão espantada quanto os três garotos.
- Os Três Mosqueteiros... – o pai falou esperançoso.

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